A preparação de um café-da-manhã, uma caminhada à noite sob a garoa ou uma conversa rápida com um vizinho. Todos esses momentos se encaixam num dia normal e rotineiro, e muitas vezes se deixam passar sem deixar algo de relevante dentro de nós. Porém, existem diversas formas de viver esses momentos. Assim como podemos preparar o café enquanto pensamos em desfrutar o almoço que está por vir ou conversar com um vizinho pensando nos problemas que temos pra resolver no trabalho, podemos também encarar cada um destes instantes como momentos únicos, merecedores de uma atenção dedicada e sensível.

Muito do que a cultura japonesa pode nos elucidar sobre esse assunto se resume na filosofia do Ichigo-Ichie. Sua tradução pode ser descrita como “um momento, um encontro” ou “uma vez, uma oportunidade”: refere-se a encarar cada momento como uma experiência que jamais irá se repetir e a valorizar como tal. Assim como coloca o poeta Henry David Thoreau: “Não podemos matar o tempo sem ferir a eternidade”, a arte japonesa do Ichigo-Ichie nos apresenta à preciosidade e infinita pureza das quais cada instante que vivemos é dotado, compreendendo assim a vida como um jogo de possibilidades no qual uma pequena mudança pode acarretar em mudanças de grande escala. A eternidade de cada instante pode ser encarada como essa potência transformada que cada pequeno detalhe detém. Também podemos vê-la como o presente que o destino nos entrega a cada segundo, traçando coincidências e oferecendo sinais que só podem ser vistos se seu olhar estiver realmente atento.

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